quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Testando 123


O relógio marca exatamente doze hora e quarenta e cinco minutos - conhecidos também como meio dia e quarenta e cinco ou quinze para uma.
Eu deveria estar no trabalho às treze horas. O problema é que chovia muito lá fora e digamos que... Eu não me dê muito bem com dias chuvosos. Um certo trauma de infância. Talvez eu explique isso melhor um dia.
Eu termino de almoçar. Especialidade do dia: arroz queimado, feijão, ovo frito e salada. 
Não me culpe por esse almoço "maravilhoso". Tenho vinte e dois anos, sou solteira e morei na casa de minhã mãe até os vinte e um. É fácil perceber que não sou muito boa com essa coisa de "morar sozinha". Isso é tão triste quanto é real.
Eu lavo as louças ainda restantes.
Vou até a porta, olho para o céu.
"Inspira. Expira." Eu lembro a mim mesma.
Reúno toda a coragem que consigo - o que, te garanto, não é muita coisa - e ponho um pé para fora.
Em poucos segundos, estou caminhando em direção ao meu serviço.
E, é claro, a chuva não diminui.
Porque diminuir se isso só facilitaria a minha vida, não é? Isso é apenas uma pequena peça pregada por aquela coisinha linda chamada vida.
Dou passos curtos e hesitantes, até que chego ao ponto de ônibus.
A rua está totalmente quieta, e só há uma pessoa nela: eu.
Dia normal.
Medos normais.
Tudo normal.
Até que alguém vêm correndo - quase voando! - pela rua, molhada e sombria, e cai à minha frente.
Bum!
Em total desespero, corro até ele/ela em uma tentativa de ajudar, mesmo que eu não saiba o que fazer ou como fazer quando chegar lá. 
Cada gota que toca minha pele, atinge-me como uma pequena agulha.
Ainda assim, continuo.
Quando chego mais perto, percebo que se trata de um rapaz. Provavelmente mais velho que eu, embora não deva ter mais de vinte e cinco anos. Pele clara - extremamente clara -, olhos negros, boca rosada. Feições confusas, perturbadas. Ele olha para mim, e sinto como se todas as certezas do mundo fossem falsas. Seu rosto exprime uma profunda desordem.
Ele parece rir, gargalhar, embora sua boca esteja apenas levemente curvada.
O que ri, são seus olhos.
Eles soltam gargalhadas desorientadas e perdidas.
Meus olhos não desgrudam dos seus, nem por um minuto sequer. Simplesmente não consigo.
Soltem-me! Quero gritar para aquele insano par de olhos.
Porém, não o faço, pois sei que sua resposta imediata seria "Nunca!"
Quando finalmente saio daquele transe, o rapaz olha para o chão, torna a olhar para mim, levanta-se e continua a correr.
Eu não paro de pensar naqueles olhos.
Um dia normal, com medos normais, se transformou nisso.
Um total pandemônio.
E uma espécie de confusão que eu nunca senti antes.

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